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General Motors
General Motors


 

                        A General Motors foi fundada em 1908 por William C. Durant a partir da Buick Motor Company. Foi no mesmo ano em que Henry Ford anunciou o Modelo T.
                        Assim como Henry Ford, William Durant soube compreender a oportunidade apresentada pelo automóvel desde seus primeiros tempos. O automóvel naquela época, especialmente entre os banqueiros e homens de negócios, era considerado como esporte, afinal, seu preço estava fora do alcance do mercado de massa, era mecanicamente precário e não havia boas estradas por onde pudessem circular. Em 1908 a produção total de carros nos Estados Unidos era próxima a 65.000 unidades e na Europa não era muito diferente, mas estes dois homens já sonhavam com um milhão de carros por ano. Poucos os levavam a sério, mas, sem dúvida, eram homens de incomparável visão, coragem e ousadia.
                         William Durant era um grande e extremamente criativo empreendedor, no final do século XIX ele era o principal produtor de carruagens e carroças dos Estados Unidos. Em 1904 entrou para a Buick Motor Company, reorganizou-a, e em 1908 era o maior fabricante de carros do país. A produção era muito pequena, é verdade: foram 8.487 Buick’s, mas no mesmo ano Ford só produziu 6.181 carros.
                         A Buick, entretanto, já tinha seu porte. As fotos abaixo, retiradas de um catálogo publicitário da marca da época, retratam a fábrica em 1906 e alguns modelos do mesmo ano.

 

 

                          A General Motors foi incorporada por Durant em 16 de setembro de 1908 como uma companhia “holding” destinada a controlar diversos fabricantes independentes de carros e autopeças. A primeira empresa a ser encampada pela “holding”, obviamente, foi a Buick, em 1º de outubro do mesmo ano. Em 12 de novembro veio a Olds (mais tarde Oldsmobile) e em 1909 vieram a Oakland (mais tarde Pontiac) e a Cadillac.
                         Entre 1908 e 1910 Durant trouxe para a GM cerca de vinte e cinco outras companhias, entre elas mais sete produtoras de automóveis, duas de lâmpadas elétricas sendo as demais de autopeças e acessórios. Esta fome de expansão acabou colocando a GM em sérias dificuldades financeiras até que, em 1910, Durant acabou perdendo seu controle.
                          Devido a sua posição de grande acionista, porém, manteve um cargo de vice-presidente e de membro do Conselho de Administração, mas não mandava nem administrava mais, o que não se coadunava com seu forte e inquieto espírito empreendedor. Assim sendo ele, em caráter particular, passou a apoiar Louis Chevrolet nas suas experiências com um carro leve.
                           Em 1911 Durant e Chevrolet fundaram a Chevrolet Motor Company que ele, em quatro anos, conseguiu transformar em uma indústria de importância nacional. Foi através da Chevrolet que ele conseguiu, em 1916, readquirir o controle sobre a GM. Houve um forte jogo de ações neste episódio e a Chevrolet, neste momento, passou a ser controladora da GM. Apenas em 1918 a Chevrolet passou a fazer parte da GM como uma de suas divisões.



 Publicidades do Chevrolet de 1914 (antes de pertencer à GM)

                        Mas William C. Durant, embora um grande empreendedor não era um grande administrador e assim, em 1920 a GM, embora já tivesse tudo para tornar-se a grande empresa do século XX, entrava novamente em seriíssima crise. Em novembro deste ano Durant renunciou.
                         Entre as muitas empresas que a GM adquiriu na gestão de Durant estava a United Motors Corporation, uma fabricante de autopeças que o próprio Durant organizara através da junção de diversos fabricantes menores. O presidente desta companhia acabou ocupando importantes cargos na GM, foi um dos grandes responsáveis por sua reorganização e presidiu-a entre 1923 e 1946, permanecendo como presidente de seu Conselho de Administração até 1956. Era ele Alfred P. Sloan Jr., o homem que conduziu a GM ao topo.
                        Em 1920 havia nos Estados Unidos muitos fabricantes de automóveis e a produção anual total de todos eles já era assombrosa: algo em torno de dois milhões e trezentas mil unidades. Destes, 47% eram Ford e 17% eram da GM. A GM era, incontestavelmente, a segunda em volume de produção, só que, enquanto a Ford concentrava-se no Modelo T a produção da GM estava dividida, a esta altura, entre sete marcas (Chevrolet, Oakland, Olds, Scrips-Booth, Sheridan, Buick e Cadillac) algumas das quais faziam dois ou três carros diferentes apresentando um total de dez carros com várias versões. Os carros da GM competiam em todas as faixas do mercado, mas competiam também entre si de maneira desordenada. As únicas marcas da GM que tinham uma identidade e uma reputação definidas eram a Buick e a Cadillac.

 
 
 
 
 
Dois modelos Buick de 1920

                         Havia ainda um grande problema: a GM vinha perdendo mercado enquanto a Ford, pelo contrário, consolidava cada vez mais sua posição. Em 1921 a participação da GM caiu para 12% e a da Ford subiu para 60%. Foi então que a GM lançou seu plano de recuperação que acabou levando-a a ser a maior empresa do mundo.
                          Um dos pontos deste plano deixava claro que a companhia desejava entrar no campo dos “preços baixos” e desafiar frontalmente o predomínio da Ford o que parecia impossível naquelas circunstancias. Alguns acreditavam que o caminho correto seria o lançamento de um carro que pudesse ser considerado revolucionário e até havia um projeto em andamento de um motor refrigerado a ar que era chamado de “refrigerado a aletas de cobre”. Embora houvesse forte oposição a este caminho dentro da empresa foram gastos dois anos e meio e muito dinheiro neste projeto, finalmente abandonado.
                          Não passava pela cabeça de ninguém, entretanto, abandonar as demais marcas. Elas deveriam apenas ser ordenadas de modo que a GM pudesse oferecer uma linha de carros em cada faixa de preços, da mais baixa à mais alta, abstendo-se apenas dos carros de pequena produção, artesanais. A idéia era evitar o que vinha acontecendo, de carros da própria GM competirem entre si e possibilitar a fidelização de clientes ao longo da vida enquanto fossem ascendendo em suas carreiras profissionais e respectivas faixas de renda. Sempre haveria um carro GM para eles.
                           Isto significava que deveria haver ampla cooperação entre as marcas. Uma das características da administração da GM sempre foi a descentralização. Cada marca funcionava dentro da corporação como uma divisão com grande autonomia. Deveria haver, entretanto, um controle coordenado. Com o tempo as marcas foram reduzidas a cinco e ficou estabelecido que cada uma atuaria em uma faixa de preços, nesta ordem, de baixo para cima: Chevrolet, Pontiac, Oldsmobile, Buick e Cadillac. Esta ordem não foi a inicial, mas acabou prevalecendo depois da criação do Pontiac em 1926 cuja fabricação foi entregue à divisão Oakland que mais tarde adotou o nome do carro.
                            Hoje isto parece banal, todas as montadores têm algo parecido. Em 1921, entretanto, não era. A Ford, a maior do mundo na época, só tinha o Modelo T e o Lincoln que pertencia à categoria de luxo. As demais, como Dodge, Willys, Maxwell (Chrysler), Hudson, Studebaker, Nash e outras ocupavam posições próprias. A GM iria competir com todas. Considerando as seriíssimas dificuldades financeiras por que passava a empresa em meio a uma grande recessão econômica em que vivia o país a situação era muito crítica.
                            Abaixo um panorama do que era oferecido ao mercado americano naquela época:


 

 

                  Dodge 1920

Studebaker 1920
                             Hudson 1922
                                                     Maxwell (Chrysler) 1919
 
                       Foi neste contexto que se tomaram algumas importantes decisões entre elas a de que os carros da GM não precisariam ser melhores que seus melhores concorrentes. Bastaria iguala-los naquilo que eles tinham de bom e supera-los naquilo em que eles não eram tão bons. Não era necessário, assim, correr o risco de experiências novas, ainda não tentadas. Isto valeria não apenas para o produto em si, mas também para a eficiência da produção, a qualidade, a propaganda, a venda e todas as outras funções. O fato de haver carros para todas as faixas de preços representava um fator de segurança nesta estratégia.
                        O maior problema, porem, estava na faixa dos “preços baixos” onde o predomínio do Ford era de 70% do mercado. A divisão naturalmente escolhida para competir nesta faixa foi a Chevrolet, mas esta não dispunha de um carro adequado para faze-lo. Dois anos e meio foram perdidos com a espera pelo motor refrigerado a ar até que ele fosse definitivamente abandonado e em 1923 o modelo 490 da Chevrolet não era o carro certo para competir com o Ford T. Era caro e não tinha as características desejadas para justificar este preço.

 

O Chevrolet 490 em três versões

                   Na década de vinte, entretanto, embora as vendas da Ford estivessem no seu ponto mais alto, as condições do mercado estavam mudando rapidamente e a GM, como empresa bem administrada, voltada para o mundo exterior, percebeu as mudanças e adaptou-se a elas com maestria. Os cinco elementos que mudaram o mercado americano de automóveis ao longo da década de vinte foram:
                    a) A institucionalização das vendas a prestação.
                    b) A formação de um mercado sólido de carros usados.
                    c) O carro fechado.
                    d) O modelo anual.
                    e) O melhoramento das estradas.

                   Todos estes elementos contribuíram, cada um a seu modo, para que os compradores de carros novos se dispusessem a pagar um pouco mais por seus automóveis e, coisa que o Sr Henry Ford parece não ter percebido, o mercado de “transporte básico”, antes dominado pelo Modelo T, passou a ser suprido, em grande parte, pelos carros usados.

                    A estratégia montada para superar as vendas do Ford foi, então, neste sentido: oferecer um carro no limite superior da faixa de preços baixos, mas que fosse muito melhor que o Ford T de maneira que o comprador deste se sentisse atraído a adquirir o produto superior, afinal o comprador provavelmente já dispunha de um carro para dar de entrada, ia pagar o carro novo em suaves prestações, o chassis do Modelo T não se adaptava muito bem ao peso de uma carroceria fechada, o carro não evoluira muito deste 1908 e, finalmente, já não satisfazia nas novas estradas. Da mesma forma este novo carro poderia atrair os compradores de carros concorrentes da categoria imediatamente superior que deveriam ver no Chevrolet um produto quase tão bom quanto aquele de forma que a economia que fariam compensasse as pequenas perdas em características. Se esta mesma filosofia fosse adotada por todas as divisões os concorrentes se veriam sempre prensados por produtos da GM, por cima, melhores e apenas um pouco mais caros e por baixo quase tão bons quanto e por um preço que fizesse valer a pena as pequenas perdas.
                      Em 1925 a Chevrolet lançou o modelo K. Não era um carro absolutamente novo, era uma evolução de modelos anteriores, mas sem dúvidas muito melhor. Tinha carroceria mais longa com maior espaço para as pernas, acabamento em Duco, parabrisa de uma peça só, limpadores automáticos e lâmpada no teto nos modelos fechados, buzina Klaxon, embreagem melhorada e robusta proteção para o eixo traseiro em lugar da antiga que tantos problemas causara. Além disto já vinha com arranque automático e aros desmontáveis, coisas que no Ford eram opcionais. O Ford básico era vendido a US$ 290,00e este Chevrolet a US$ 510,00, mas era muito mais completo. Nas versões equipadas o Ford ia a US$ 660,00 e o Chevrolet a US$ 825,00. A intenção da GM era mostrar ao público que sempre dava mais pelo seu dólar do que a Ford e também que se propunha a aperfeiçoar continuamente seus produtos.

 


Chevrolet Superior K 1925

                           O modelo K de 1925 vendeu 481 mil unidades contra dois milhões do Modelo T. Mas a participação relativa da Ford no mercado naquele ano caiu de 54 para 45%. Em 1926 a Chevrolet vendeu 692.000 carros e a Ford teve uma queda para 1.550.000. Em maio de 1927 a Ford fechou suas fábricas para completa remodelação e só reabriu um ano depois para apresentar o totalmente novo Ford Modelo A com o qual recuperou a liderança em 1929 e 1930 perdendo-a novamente em 1932. Depois disto conseguiu recuperar uma vez mais em 1935 e nunca mais.
                           A estratégia da GM funcionou, mas sobretudo funcionou a boa administração. A prática da descentralização com controle coordenado dava às divisões a necessária autonomia para que oferecessem ao mercado os carros mais adequados, mas ao mesmo tempo criava as restrições para que elas não competissem entre si e permitiu que a corporação criasse corpos técnicos comuns que serviam a todas as divisões evitando duplicidade de esforços, com grande economia. Assim havia o Corpo Financeiro, o Laboratório de Pesquisa, o Corpo de Engenharia de Produto, o Corpo de Engenharia de Manufatura, o Corpo de Estilização, o Corpo de Distribuição e o Corpo de Pessoal. Em 1956 a General Motors inaugurou a nordeste de Detroit a cerca de 20 Km do seu edifício sede o Centro Técnico da General Motors onde acomodou, em vários edifícios que formam um magnífico complexo arquitetônico, seus principais corpos técnicos como pesquisa, engenharia de produto e de manufatura e estilização.
                              Ai está a General Motors. Uma empresa superlativa, mas não uma empresa de superlativos. Se perguntarmos qual é o carro mais luxuoso do mundo, qual o mais caro, o mais veloz, o mais potente, o mais bonito, o menor, o mais barato, o maior, o que mais venceu provas esportivas, o melhor ou o que quer que seja o mais, a resposta dificilmente caírá sobre um carro da GM. Ela simplesmente fabrica carros de boa qualidade em variedade de tipos e em quantidades maiores do que qualquer outra empresa do mundo.

 

Bibliografia utilizada neste capítulo:
- Minha Vida na Genaral Motors, Alfred P. Sloan Jr., Distribuidora Record, Rio de Janeiro, 1965
- A Máquina que Mudou o Mundo, James P. Womack, Daniel T. Jones e Daniel Roos, Editora Campus, Rio de janeiro, 1992
- Carros Grandes, Grandes Carros, Geraldo Fedrizzi, Editora Maneco, Caxias do Sul, 2007
-Revista Quatro Rodas da Editora Abril, São Paulo,diversos números.
-ConceptcarZ (fotos Chevrolet K)